Origens

Temos um avô etnógrafo. Desde sempre me habituei a ver e ouvir o meu pai falar da terra de onde é oriundo. Com a voz embargada pela saudade, pela recordação sofrida do que passou, mas sempre com um carinho enorme. Não esquece e faz por que não caia em esquecimento. Estuda-lhes os costumes, os povos, as origens.

Na minha fase parva achava aquilo tudo uma tremenda pirosice. O rancho, as músicas, os fatos, os tecidos. Tudo! Depois, passou-me. E tornei-me eu própria revivalista. O regresso às origens ocorre invariavelmente por alturas da Páscoa e no Verão. E Páscoa sem neve não tem metade da piada, e sem o beijar da cruz, a «visita» (bênção) às casas da aldeia, o arraial popular, enfim...

As origens marcaram-me de tal forma que na hora de escolher a indumentária para a casa, e ainda que vivamos num apartamento, escolhemos um estilo rústico, incluindo móveis recuperados.

E a casa está inundada de artesanato serrano.

Na hora de vestir também regressamos às origens e saímos de casa com linhos e burel, capuchinhas e meias de lã.

E o orgulho que é ver-lhes reconhecido o trabalho e ostentá-lo.

(E a estranheza de ter um «alentejano» que alinha pela mesma bitola.)